Pensar Joinville: Qualidade de vida com memória preservada

O artigo “Pensar Joinville” publicado neste domingo foi escrito por Rosana Barreto Martins.

Chegam-me as lembranças de 39 anos atrás, quando, nos anos 70, ocorreu a intervenção para a implantação da avenida Norte-Sul e, logo após, da avenida Beira-rio.

Morros foram cortados e ocupados. O mesmo em relação aos rios, com edificações sobre eles e em suas margens, cujas águas, em dias de enxurradas intensas, hoje se alastram sobre as ruas sem pedir licença aos espaços usurpados.

A ciclovia, construída para atender aos operários das indústrias da zona Leste, teve pequenas ampliações, infelizmente ainda inexpressivas, descontínuas e desprovidas de vegetação.

O rio Cachoeira, integrante da história, outrora navegável e propício ao banho, hoje está poluído. O transporte coletivo é pouco qualificado, impedindo que a maioria das pessoas o utilize dignamente. As calçadas estão maltratadas, ineficientes e inseguras. Nas vias públicas, há pouca vegetação ou apenas arbustiva. O tratamento do esgoto é insuficiente.

Fazemos parte da maior cidade do Estado, detentora do terceiro maior PIB da região Sul, porém a verticalização continua se alastrando como se unicamente construir e asfaltar constituísse o progresso. Foi esse o legado dessas décadas!

“Joinville saudável”, “planejamento para o desenvolvimento sustentável”, “qualidade de vida”! Como? Onde? Para quem?

Tende-se ao continuísmo. É aceitável que a herança do passado projete-se para mais duas décadas adiante? Se for assim, a meta está longe do desejável para uma cidade com 500 mil habitantes. Mas há saídas: com vontade política, estudos, planejamento, estratégias, ações e afinco! Caso contrário, não haverá desenvolvimento econômico e social sustentável e, sim, problemas futuros por falta de visão.

Continuarei a sonhar! Ciclovias contínuas, com áreas de descanso sob as árvores. O rio Cachoeira com esportes náuticos. Deques contornando os frondosos fícus. Áreas de lazer e ciclovias em parques lineares com corredores ecológicos. Valas de captação ou bacias de acumulação para dias com maré alta e chuvas.

Calçadas e transportes coletivos adequados e aptos para todos. Praças convidativas para sentarmos sob o frescor das árvores, com água corrente para amenizar o calor.

Conclusão dos 88% da rede de esgoto, restituindo vida aos rios – eixo simbólico das águas limpas. Edificações com telhados verdes. Aproveitamento da energia solar e eólica.

Compostagem do lixo orgânico. Hortas comunitárias. Uso e reutilização das águas pluviais.

Afastamento entre edificações, favorecendo a ventilação e a exposição à luz solar. Menor verticalização. Áreas verdes intercaladas, favorecendo o bioclimatismo urbano. Pisos permeáveis e ecológicos em vias, calçadas e lotes, facilitando a vazão das águas. Farta arborização nos morros, vias, praças, áreas privadas e gramados, evitando ilhas de calor. Controle da qualidade do ar. Economias de bairro com serviços de apoio e convívio social.

Patrimônios culturais e museus protegidos e mantidos, sem a verticalização a escondê-los: tudo para que a memória advinda se torne viva, conhecida, enaltecida, vivenciada, contemplada e usufruída.

É hora de acordar para a realidade à nossa frente e mudar o rumo. Apressemo-nos em busca da proteção, conservação e recuperação de nossa qualidade de vida física, mental, cultural, social e ambiental.

Pensar Joinville - qualidade de vida

Publicado originalmente em: Pensar Joinville – Qualidade de vida com memória preservada – 160 anos de Joinville.htm – 05/03/2011 – AN – acesse.

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