Conhecer e reconhecer

ROTEIRO TURÍSTICO0-ARQUITETÔNICO E CULTURAL DESTACA MARCAS NA PAISAGEM DE UMA HISTÓRIA EM CONSTRUÇÃO

ROSANA BARRETO MARTINS*

O patrimônio cultural é herdado de nossos pais e antepassados. Mas essa herança só passa a ser nossa se nos apropriarmos dela, se a conhecermos e reconhecermos como algo que nos foi legado para ser usufruída, e que deveremos deixar como herança aos filhos. Uma herança que constitui nossa riqueza cultural, individual e coletiva, nossa memória, a nossa “marca” inconfundível de uma cultura própria. Importante testemunho que nos traz a museóloga Maria de Lourdes Parreiras Horta.

Um povo que tenha respeito às tradições e orgulho pela própria terra será bem menos suscetível à imposição de culturas alienantes. Em Joinville, o que teria ocorrido se não tivesse sido dada a devida atenção ao Museu do Imigrante, à estação ferroviária, à Sociedade Harmonia-Lyra? E mais: à Ponte Hercílio Luz, à Fortaleza de Anhatomirim, ao Farol de Santa Marta, aos centros históricos de São Francisco do Sul e de Laguna, às cidades de Minas Gerais? No Brasil, 17 áreas são patrimônios da humanidade: cidades, centros históricos, ruínas, santuários, parques, reservas, áreas protegidas e ilhas (Fernando de Noronha e Atol das Rocas).

Disse o arquiteto Le Courbusier: “A morte, que não poupa nenhum ser vivo, se abate também sobre as obras dos homens. É preciso, dentre os testemunhos do passado, reconhecer e discriminar os que são bem vivos”.

Mais de 700 monumentos e áreas históricas e naturais constam da Lista do Patrimônio Mundial. A importância do patrimônio cultural está na Constituição Federal de 1937, com inovações na de 1988, segundo a qual o bem tombado que tinha por natureza o interesse público passa a ser bem de uso comum do povo. Em Santa Catarina, uma lei de 1980 dispõe sobre a proteção do patrimônio cultural.

O Roteiro Turístico-arquitetônico e Cultural, criado para conhecer e reconhecer o patrimônio cultural de Joinville, será distribuído gratuitamente em 65 pontos da cidade: estabelecimentos dos 33 patrocinadores e 32 espaços culturais, turísticos e de hotelaria, além de constar nas bibliotecas das escolas municipais. Com a finalidade de atingir o cidadão local e o turista, este material vem preencher uma importante lacuna existente, trazendo referência ao patrimônio cultural local.

Nosso pensamento está gravado nas seguintes frases da capa do “Roteiro”: “Só se ama e se preserva o que se conhece. Ajude a manter esta história, você faz parte dela. Conheça, assuma, preserve, proteja, orgulhe-se”. E ainda: “Conheça as edificações históricas de Joinville. Visite e reconheça nestes locais uma parte importante de seu patrimônio cultural e se deixe conquistar pela beleza, charme e simpatia desta cidade”.

A historiadora em urbanismo e patrimônio, Françoise Choay nos traz uma reflexão: “Cada cultura que mantém a relação dos homens com o mundo funda no tempo seu aprofundamento e reforça o nó que torna indissociável nosso poder de simbolização e presença na terra dos vivos”.

O patrimônio cultural necessita de proteção, conservação e promoção. O que se deseja com o “Roteiro” é fortalecer a consciência e o reconhecimento para a sustentabilidade do patrimônio cultural. Temos como proposta de continuidade o Selo Amigo do Patrimônio, parcerias para manutenção dos patrimônios e o trabalho paralelo de geração de emprego e renda, colocando em prática a responsabilidade pelo patrimônio.

Espera-se que a coletividade passe a ser guardiã atenta ao bem público e coletivo. “A melhor forma de preservar a memória é lembrá-la, de contar a história é pensá-la, e de assegurar a identidade é mantê-la”, diz André Luis Ramos Soares. Convido-os a passear nesses tempos e a perceber a beleza e riqueza cultural do patrimônio da cidade, para que a história que conhecemos dos antepassados permaneça para ser contada às próximas gerações.

* Rosana Barreto Martins é arquiteta e urbanista, especialista em desenvolvimento regional e urbano pela UFSC, especialista em reabilitação ambiental sustentável arquitetônica e urbanística pela UnB, mestranda em urbanismo, história e arquitetura da cidade pela UFSC.\

Conhecer e reconhecer

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